Sabia que para chegar em Alfredo precisa encarar três serras? Três belas serras com visuais de encher os olhos e que preparam o coração para aproveitar ao máximo a geografia ao redor de qualquer lugar que você ficar na cidade.
Começando pelo fim, Alfredo Wagner está literalmente grudada ao Planalto Catarinense. É como se houvessem duas forças agindo em oposição. Hipoteticamente, uma seria formada pelas ondas do marzão de Santa Catarina, que empurram os morros para o interior. A outra, seria a barreira formada pelas encostas do planalto, que não quer deixar que Alfredo siga mais adiante e cria aqui “rugas” morfológicas grudadas umas nas outras.
Por isto que aqui é tão lindo, tão particularmente diferente de outras regiões de Santa Catarina e até do Brasil. Para onde você olha tem vales profundos, picos, furnas estreitas, escarpas e encostas.
A grande maioria dos que chegam em Alfredo Wagner para curtir dias de paz em uma das suas dezenas de pousadas, casas, chalés e cabanas de aluguel de temporada, hotéis ou campings, partem do litoral. Uma viagem de pouco mais de 100 km que separa a Capital das delícias naturais que podem e devem ser curtidas em Alfredo Wagner.
Na real, da cabeceira continental da Ponte Colombo Salles até o trevo de Alfredo Wagner, são exatos 104 km. Os primeiros deles são vencido sobre a “planície costeira”, quase ao nível do mar. Mar que para quem vem pela BR 101, está à esquerda, e com as Serras do Leste Catarinense dando suas graças, à direita.
“Serras do Leste Catarinense” é o nome do conjunto de três Serras que separam o mar do Planalto. Elas começam, juntas e paralelas nos arredores de Laguna e cortam o Estado no sentido Sul-Norte até as proximidades de Jaraguá do Sul. E é precisa cruzá-las para chegar em Alfredo, à Oeste.
O primeiro contato mais íntimo com as Serras ainda é apenas visual. Ao deixar a BR 101, na saída 214, já em Palhoça, e ingressar na BR 282, bem ao lado, à direita, está o imponente Morro do Cambirela, com 1050 metros de altitude, ponto culminante da Serra do Tabuleiro. Há quem diga que ele se formou há 590 milhões de anos como um vulcão, teoria que se sustenta também pela grande quantidade de fontes de águas termais que brotam de suas entranhas.
A subida começa de verdade um pouco mais adiante, após deixar Santo Amaro da Imperatriz e assim que for cruzada a pequena ponte sobre o rio das Forquilhas, alguns metros adiante do trevo de Águas Mornas. Dali até Alfredo são 75 km de um sobe e desce só.
Vale muito prestar atenção para o fato de que aqui já se está rodeado pelo verde e que não há mais horizonte à vista. Só morro. E que a subida da “Serra do Tabuleiro” é rápida. Ao passar pelo acesso à Santa Isabel, uns 20 km depois do começo da subida, já são mais de 500 metros de altitude. Pouco mais adiante, logo após a sequência de sensuais curvas da BR 282, ao chegar no trevo de Rancho Queimado, já são 800 metros acima do nível do mar. O topo da Serra do Tabuleiro está um pouquinho mais adiante, logo após o Posto da Polícia Rodoviária Federal, a mais de 900 metros de altitude. Começa a primeira descida.
Para cruzar a ponte sobre o Rio Bonito, pertinho do acesso à Taquaras, precisa descer uns 150 metros antes de começar a subir de novo e trocar de Serra. Agora a escalada é na Serra da Boa Vista, que leva ao ponto mais alto anotado no leito das rodovias federais que riscam o solo de Santa Catarina. São pouco mais de 1.100 metros de altitude ao passar pelo acesso ao Mirante, que está a 1.250 metros do nível do mar. Vale uma subida ali para apreciar o “mar” de picos à perder de vista e de encher os olhos.
Pelos 25 quilômetros que ainda restam para chegar em Alfredo Wagner, precisa descer 650 metros até a ponte sobre o Rio Caeté, trevo de acesso ao centro da cidade. Da estrada, ainda bem lá do alto e olhando para o Oeste, já dá para ver, ao longe, os recortados morros de Alfredo, como o do Camelo (ou Tartaruga), o do Dorigon, e o da Pedra Branca, todos nas encostas do Campo do Padres.
Esta descida é deslumbrante. Os morros à direita, que vão crescendo enquanto nos aprofundamos no Vale do Rio Adaga, já fazem parte da Serra dos Faxinais. Olhos atentos podem vislumbrar, à esquerda, cachoeiras que descem as escarpas da Boa Vista para ajudar a irrigar a Bacia do Rio Itajaí.
Como um tesouro, Alfredo Wagner está escondida. Só dá para saber que chegou quando se está bem pertinho, apenas após a última curva antes da Ponte sobre o Rio Adaga, bem no trevo, 480 metros acima das areias das praias de Floripa. Entre devagar, apreciando a vida que desfila com calma numa das cidades mais acolhedoras que você tem, agora, tem a oportunidade de desfrutar.
Comece já a explorar Alfredo Wagner, conhecer cada cachoeira, cada rio, cada escarpa. Subir e descer as “rugas” da borda Leste do Planalto Catarinense.
Textos e Fotos:
Tarcísio Mattos
Jornalista, agricultor orgânico e pousadeiro no Vale do Rio das Águas Frias.